A taxa básica de juros no Brasil (SELIC) irá, provavelmente, cair em breve. O que fazer com os investimentos? (10.07.2023)

Acreditamos que a primeira coisa a se fazer é ter calma. Quando dizemos ter calma, queremos dizer não entrar na onda do mercado e do chamado “FOMO” (fear of missing out), ou, “medo de ficar de fora”. Conforme Nassim Taleb, ou Howard Marks, o que vale é você “se manter no jogo”, ou seja, melhor deixar passar alguma eventual oportunidade e continuar com seu portfólio condizente com seu perfil e objetivos, do que tentar seguir algo que talvez não seja para você e acabar se dando mal. A ideia de tentar prever um momento perfeito de entrada em determinado investimento não existe, ao menos para o investidor médio, o investidor comum. Portanto, sabendo que o mercado se move em ciclos, essas taxas que irão cair em breve, subirão novamente em algum momento e assim o ciclo se repetirá. Mas quando irão cair e quando irão começar a subir novamente? Seria burrice tentar adivinhar. Acreditamos que seja mais importante, para o investidor comum, pensar em seus objetivos de curto, médio e longo prazos e montar uma estratégia diversificada que possa atravessar vários ciclos de mercado sem grandes intempéries. 

OK?!

Dito isso, vamos aos fatos. O mercado se move baseado em expectativas, certo? 

Internamente no nosso país, uma das questões mais faladas é sobre a preocupação com o cenário fiscal, que é basicamente a relação entre o que o governo arrecada com impostos e como ele gasta/investe esses recursos. Em meados de março deste ano, as conversas sobre a efetiva implantação do novo arcabouço fiscal tomaram forma e, com isso, BASEADO NA EXPECTATIVA de que ele poderia efetivamente ser implantado e dar sustentabilidade para a dívida pública brasileira (não sei se conseguirá, mas é o que se propõe), o “prêmio de risco Brasil” começou a se reduzir e, consequentemente, as taxas de juros (futuras!). Perceba que a SELIC ainda não se reduziu dos atuais 13,75% ao ano, pois na verdade, ela está muito mais ligada aos movimentos de curto prazo, especialmente sobre o controle inflacionário corrente – e que apresenta sinais de arrefecimento – do que com as taxas de juros longas. Mas o que acontece é que, a simples EXPECTATIVA de um cenário fiscal melhor no futuro, já faz com que os prêmios sobre as taxas futuras de juros se reduzam. Logicamente, precisamos destacar aqui também a melhora na projeção do PIB vista nas últimas semanas. O país terminou o primeiro trimestre de 2023 com um crescimento de 1,90% em relação ao trimestre anterior (puxado basicamente pelo Agronegócio), acima do que era esperado pelo mercado. Com isso, as projeções de crescimento brasileiro para 2023 melhoraram e estão na casa dos 2,0%. Vejamos no gráfico abaixo, a redução de taxa do título público brasileiro para 10 anos, iniciada em meados de março:

Fonte: TradingView

O título do governo brasileiro para 10 anos (acima), estava sendo negociado a uma taxa de aproximadamente 13,60% no dia 09 de março deste ano. Hoje, 10 de julho, está sendo negociado por aproximadamente 10,65%, o que significa uma queda de aproximadamente 21% na taxa. Sabendo que o PREÇO do título possui uma RELAÇÃO INVERSA com a TAXA, esse título apresentou uma VALORIZAÇÃO de seu preço nesse período. O gráfico abaixo mostra isso:

Fonte: TradingView

A linha em azul mostra a queda de quase 21% na TAXA do título público brasileiro de dez anos, de 09 de março até hoje, e a linha laranja, mostra a consequente valorização do PREÇO desse mesmo título, de quase 12%, nesse mesmo período. 

Então, retomando agora o título desse post, títulos públicos prefixados, títulos públicos indexados à inflação (NTNBs) – por possuírem parte da remuneração prefixada – são alguns dos investimentos que tendem a se valorizar em um cenário de queda dos juros, logicamente, a depender do momento de aquisição de cada um desses papéis.

Fonte: TradingView

Desde o dia 09 de março, quando iniciou a queda mais acentuada dos juros futuros (linha azul no gráfico acima), o IMAB11 – ETF que representa uma cesta com títulos públicos indexados à inflação – já sobe em torno de 9%, e o IRFM11 – ETF que representa uma cesta com títulos públicos prefixados, aproximadamente 7%

Outros investimentos como Fundos imobiliários e Ações, também são investimentos que tendem a se beneficiar em um cenário de queda nos juros, de forma geral. Exemplo: Uma empresa vale hoje basicamente a sua perspectiva de resultados futuros descontados a uma certa taxa, taxa que traz esses fluxos futuros ao valor presente, ao momento presente. Se essa perspectiva de taxa se reduz (juros futuros menores), esses fluxos são descontados a uma taxa menor e, portanto, geram um valor presente maior, valorizando os ativos. 

Fonte: TradingView

No gráfico acima, está o desempenho do IFIX – índice que representa o desempenho médio dos fundos imobiliários, que sobe 13% no período (desde 09 de março) e o IBOVESPA – principal índice acionário brasileiro, que sobe aproximadamente 10% no mesmo período. 

Como dito anteriormente, o mercado se move baseado em EXPECTATIVAS, sendo assim, boa parte desse movimento de valorização já ocorreu (“já está precificado”). Isso não quer dizer que não vá continuar subindo, mas que é preciso fazer uma análise mais cautelosa nesse momento. Vale lembrar aqui: rentabilidade passada não significa rentabilidade futura; todo investimento possui algum tipo de risco; títulos públicos prefixados e/ou indexados à inflação podem apresentar rentabilidade negativa; fundos imobiliários são considerados aplicações de renda variável e, frequentemente, apresentam rentabilidade negativa; ações, possuem a maior volatilidade dentre essas classes de ativos mencionadas e, sendo assim, as oscilações, sejam negativas ou positivas, tendem a ser maiores.

Com isso, conforme mencionado no início desse post, é mais importante para o investidor ter um portfólio diversificado e que esteja de acordo com seus objetivos e perfil de risco – e que pode eventualmente conter alguns dos investimentos mencionados – do que tentar acertar o momento exato de entrada e saída em cada classe de ativo.

*Esse post não é uma recomendação de investimento. Para uma avaliação detalhada do seu caso em específico, entre em contato conosco.

10 de julho de 2023.