Grandes questões que impactam os mercados e os investimentos

Nesse post, cito ao menos cinco grandes questões que estão impactando os mercados e os investimentos e continuarão impactando ao menos na próxima década. Não são questões triviais ou de curto prazo, são questões de longo prazo, que requerem maior aprofundamento por parte de todos, investidores ou não.

São elas:

1. A MAIOR FRAGMENTAÇÃO MUNDIAL: 

A pandemia da covid-19 deixou marcas relevantes também nas relações econômicas entre os países. Países que foram beneficiados nas últimas décadas por uma maior abertura comercial e que, com isso, expandiram seus horizontes por meio dessa globalização, ficaram em situação complicada ao não poderem transacionar seus produtos e serviços durante a pandemia. Foi então que perceberam o quão expostos estavam e o quão dependentes estavam uns dos outros. 

Já no pós-pandemia, muitos países decidiram trazer grande parte de suas produções para serem feitas internamente, reduzindo parte desse movimento de globalização visto nas últimas décadas. Mais do que isso, os países estão buscando fazer parcerias com países mais próximos geograficamente (nearshoring) e/ou com países que possuam uma relação mais “amigável” (friendshoring).

Vale destacar que todo esse movimento gradual de redução da globalização é um processo que acaba sendo inflacionário, isto é, tende a causar pressão altista nos preços na medida que encontra meios de produção mais caros internamente. Exemplo: Estados Unidos retiram parte da produção que tinham na China e passam a produzir novamente internamente ou em parceiros próximos como México e Canadá. 

2. A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: 

A inteligência artificial veio pra ficar. Com ela, mais agilidade nos processos, maior ganho de produtividade. É importante pensarmos que inteligência artificial e Seres Humanos andam lado a lado e que as relações interpessoais serão ainda mais valorizadas. Contudo, as novas tecnologias têm trazido mudanças importantes nos mercados de trabalho e, nesse sentido, há muitas dúvidas sobre o real impacto desse “rearranjo” nos próximos anos. 

Um outro ponto importante é a chamada “guerra silenciosa”, entre Estados Unidos e China, com relação à liderança do processo de novas descobertas tecnológicas e melhor capacidade de produção sobre os processos já existentes. Um bom exemplo aqui são as disputas no que se refere aos chips e também sobre as baterias utilizadas nos carros elétricos.

Além disso, cabe destacar que “novas tecnologias” são, na maioria das vezes, processos desinflacionários, isto é, melhoram a produtividade e tendem a causar pressão baixista na inflação com o passar do tempo. 

3. A TRANSIÇÃO PARA UMA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO: 

O Brasil pode se beneficiar muito desse momento de busca global por produções mais sustentáveis e, consequentemente, investimentos mais sustentáveis, dada a grande quantidade de energia limpa disponível no país. Porém, para se tornar um líder nesse processo de transição energética, será necessário maior integração dos atores públicos e privados e a criação de marcos de governança bem definidos e transparentes. 

No que tange aos investimentos, portfólios compostos por ativos sustentáveis são cada vez mais exigidos pelos investidores. 

Um outro ponto interessante é que essa transição energética é bastante custosa, ou seja, tende a aumentar a dívida governamental dos países ao longo do tempo.

4. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL: 

Grande parte da geração de riqueza criada até aqui foi causada pelo aumento populacional, pela entrada de novos indivíduos no setor produtivo. Como será o crescimento dos países daqui para frente se a população mundial não irá crescer como antes?  Veja o exemplo da China, que restringiu a quantidade de filhos por casal nas últimas décadas e depois se viu com uma população produtiva mais idosa e em dificuldades para manter os níveis de crescimento desejados para o país. 

Como os governos irão lidar com populações cada vez mais idosas? Estão preparados? Como será o mercado de trabalho?

Nos Estados Unidos e na Europa, já é visível o impacto causado no mercado de trabalho devido à aposentadoria dos “baby boomers” (nascidos entre 1945 e 1964), onde há falta de mão de obra qualificada disponível para contratar para substituí-los. Isso traz dois impactos para a economia: (a) uma menor força de trabalho (devido às aposentadorias) significa que a capacidade de crescer desses países tende a ser menor do que no passado, para um mesmo nível de inflação gerado. Isso posto, para manter um mesmo nível de crescimento, deverá haver mais pressão inflacionária nos preços de produção (contratações, salários); e (b) os governos devem ter pressão em suas contas públicas (aumento da dívida pública) devido aos maiores gastos com previdência.

5.  OS JUROS MAIS ALTOS: 

Desde a crise financeira de 2008, o mundo desenvolvido vem convivendo com um afrouxamento monetário (quantitative easing) com política de juros ZERO, especialmente Estados Unidos e Europa. Esse mundo acabou. Provavelmente os juros não ficarão nos níveis de hoje (5.50% a.a. nos Estados Unidos e 4.50% a.a. na Zona do Euro), mas com certeza não serão tão baixos como foram nas últimas décadas. E quais os impactos desses juros mais altos?

. Provável redução nos preços dos ativos americanos e europeus, pois ao serem avaliados com juro próximo a zero desde 2008 tiveram seus preços inflados e, agora, com juros ao redor dos 5%, o valor desses ativos deve ser menor. Esse ajuste parece ainda não ter ocorrido nos mercados;

. Aumento da dívida mundial, na medida que a dívida mundial é baseada no juro americano de 10 anos (treasury) e esse se encontra no maior nível desde 2007 (ao redor dos 4.51% a.a. em 08.11.2023).

Quem paga essa dívida com juros mais altos? Em princípio, os governos precisam se endividar mais (emitir mais títulos) para rolar essa dívida, muitas vezes, tendo que ofertar maiores taxas aos investidores;

. Além disso, todo esse processo reduz a liquidez mundial, ou melhor, retira dinheiro dos países emergentes e leva para os países desenvolvidos, causando pressão no câmbio daqueles países e deixando-os sem capital estrangeiro para investimento e valorização dos ativos;

. Outro grande impacto é que há uma certa readaptação ocorrendo em todo o sistema financeiro dos países desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos. Os bancos, que não davam tanta importância para os poupadores em seus balanços, agora, com juros mais altos, estão tendo maior demanda por investimento em seus produtos mais conservadores e líquidos, como é o caso dos Money Market funds. Os bancos repassarão os maiores custos de captação para os tomadores de empréstimos na outra ponta ou reduzirão suas margens de lucro?

Essas são algumas das “Big Questions” que estão impactando os mercados e os investimentos atualmente e continuarão impactando nas próximas décadas.

Florianópolis, 08 de novembro de 2023.