Atualizações sobre o cenário econômico mundial – 04.08.2023

Cenário Internacional:

  • Estados Unidos e Europa estão em situação parecida. Ambos aguardam novos dados de inflação e mercado de trabalho para tomar a próxima decisão sobre os juros, no mês de setembro. Segundo Powell e Lagarde, as possibilidades estão entre aumento e manutenção. Na semana passada, o FED subiu os juros americanos em 25bp (0,25%) para o intervalo entre 5,25% e 5,50% e o ECB subiu os juros da Zona do Euro também em 25bp, para 4,25%. 
  • Ambos possuem taxas de inflação cedentes, muito embora os núcleos inflacionários estejam bastante resilientes, com taxas de 4,8% e 5,5%, respectivamente. A inflação de energia retornou aos níveis pré-pandemia, mas a inflação de alimentos continua consideravelmente acima. Tratando-se de uma meta de inflação de 2,0% a.a., há ainda algum caminho pela frente. Se não se tratar de um caminho com novos aumentos de juros, muito provavelmente de uma manutenção mais prolongada desses. Os recentes acontecimentos nos Estados Unidos como a redução da nota de crédito de AAA para AA+ pela Fitch e o Payroll (relatório de emprego) de julho aquém do esperado podem colocar pressão em Jerome Powell sobre novos aumentos de juros;
  • Ambos possuem mercados de trabalho extremamente fortes, com taxas de desemprego nas mínimas (3,5% e 6,4%, respectivamente), o que gera incerteza sobre a possibilidade de recessões mais profundas, ao menos com esse cenário atual. A falta de mão de obra qualificada disponível cria um ambiente em que as empresas se tornam relutantes em dispensar trabalhadores, mesmo que isso possa pressionar suas margens, nesse momento. Portanto, o “pleno emprego” vivenciado parece mais resiliência e incerteza das empresas quanto à condição de recontratação futura do que sinônimo de pujança econômica.  
  • Com relação à atividade econômica – especificamente ao PIB -, os Estados Unidos parecem estar em melhores condições do que a Europa, dado que apresentam PIB crescente (base anual) nos dois primeiros trimestres deste ano, diferentemente da Europa, que apresenta PIB cadente desde o início de 2022, ano em que se iniciou o aperto monetário (aumento de juros) por lá. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento de 1,8% para os Estados Unidos e 0,9% para a Europa em 2023, previsão superior àquela feita em abril deste ano. Os PMIs têm demonstrado resiliência nos setores de serviços, porém fraqueza nos setores industriais. 
  • Na China, a recuperação do pós-pandemia parece mais lenta do que se esperava, muito embora seja uma das poucas nações com inflação controlada e, com isso, maior condição para novos estímulos fiscais e monetários. Os investimentos privados reduziram, e o governo tenta estimular o consumo interno. Fora isso, continuam os problemas estruturais de médio e longo prazos chineses: desigualdade aumentando; o grande problema demográfico; produtividade em queda (especialmente pelo menor apetite do setor privado no pós-pandemia); elevados e crescentes níveis de dívida; redução das importações de alguns parceiros comerciais que visam menor dependência chinesa e; o aumento da tensão com os Estados Unidos no que tange à “guerra” dos semicondutores. O FMI projeta um crescimento de 5,2% em 2023 para a China. É importante a atenção sobre a economia chinesa, considerando que é o maior parceiro comercial do Brasil.

Cenário Interno (Brasil):

  • O Brasil está em um momento mais favorável do ciclo econômico do que Estados Unidos e Europa, aparentemente. Tendo começado o aperto monetário antes e de forma mais dura do que a maioria dos outros países, inicia agora o processo de redução dos juros. O arrefecimento da inflação permitiu ao Copom reduzir em 50bp (0,50%) a SELIC nesta semana, deixando-a em 13,25% a.a. e mencionando que pretende reduções de mesma magnitude nas próximas reuniões deste ano (caso o cenário desinflacionário ocorra dentro do esperado);
  • A verdade é que o que está possibilitando esse melhor momento para o Brasil são medidas tomadas no campo fiscal, como o novo arcabouço fiscal e a nova reforma tributária. Muito embora ainda não estejam aprovadas, a expectativa de um cenário fiscal mais controlado à frente fez com que os prêmios de risco caíssem e, consequentemente, títulos pré-fixados e ativos de renda variável se valorizassem, especialmente após meados de março deste ano. Agora, a questão que fica: o quanto desse movimento já está precificado? É importante destacar que, não está claro de onde sairão os aproximados R$ 150 bilhões para honrar com a meta de zerar o déficit primário já em 2024. Em uma primeira amostragem, o governo aumentou suas despesas e fechou o acumulado do primeiro semestre deste ano com déficit primário de quase R$ 43 bilhões. Além disso, há muitas dúvidas com relação à reforma tributária que ainda não foram esclarecidas;
  • Sendo assim, certa cautela parece prudente, embora seja nítido o bom momento vivido pelos ativos de risco brasileiros desde que as medidas fiscais começaram a tomar corpo (meados de março). 

04 de agosto de 2023.

*Não há nenhum tipo de recomendação de investimento nesse artigo. É primordial que cada investidor respeite seu perfil de risco, suas necessidades e objetivos, seu horizonte de tempo e liquidez.