O que realmente importa? (sobre investimentos)

Esse post é baseado no memorando “What Really Matters”, escrito por Howard Marks em novembro de 2022. Howard é fundador da Oaktree Capital, uma gestora de ativos americana fundada em 1995, especializada em Investimentos Alternativos, mais especificamente em Crédito, e que hoje conta com aproximadamente US$ 172 bilhões sob gestão. 

Link com o artigo original: https://www.oaktreecapital.com/docs/default-source/memos/what-really-matters.pdf?sfvrsn=6b574266_8

O memorando tem o intuito de demonstrar o que realmente importa para os investidores, ou, ao menos, o que deveria importar, na visão de Howard Marks. Vale mencionar que Warren Buffett – considerado o maior investidor do mundo – já disse que quando vê algum memorando de Howard Marks em seu e-mail, essa é a primeira coisa que ele abre e lê. 

Inicialmente, Howard faz questão de dizer o que NÃO IMPORTA para o investidor, em sua visão:

O Curto Prazo: Howard menciona várias vezes sobre a influência do psicológico dos investidores nos movimentos de curto prazo dos ativos e, por isso, não se deve analisar a qualidade de um portfólio ou investimento baseado em uma performance de um ou dois trimestres. O comportamento dos investidores é imprevisível e determinante nas oscilações de curto prazo dos ativos. Tentar “adivinhar” o movimento de determinado ativo não é suficiente, visto que seria necessário descobrir mais do que isso, ou seja, tentar mensurar quais as expectativas dos investidores sobre o que pode acontecer com esse ativo. Além disso, é muito difícil saber o que já está precificado ou não. De acordo com Howard:

“Events are unpredictable; they can be altered by unpredictable influences; and investor’s reactions to the events that occur are unpredictable.”

Não se trata apenas sobre determinado evento ser positivo ou negativo, mas sobre o que era esperado por parte dos investidores e sobre suas reações ao que efetivamente ocorreu.

Volatilidade: A volatilidade não é necessariamente risco, mas sim um indicador de presença de risco. E o risco, segundo Howard, é a probabilidade de um mau resultado. Ele acredita que todo investimento possui algum tipo de risco e que não há almoço grátis, isso significa, para maiores retornos, naturalmente haverá maiores riscos envolvidos. É preciso destacar, contudo: a assunção de maiores riscos não significa garantia de maior rentabilidade.

O ponto crucial é o retorno ajustado ao risco e, para tanto, deve ser levado em consideração o perfil de risco do cliente/investidor, seus objetivos, horizonte de tempo, necessidades de liquidez, etc. Howard destaca que em seu caso (a Oaktree trabalha fundamentalmente com Crédito) as medidas de volatilidade e índice de Sharpe (um dos indicadores que medem retorno ajustado ao risco) servem muito pouco, visto que o que realmente interessa é a análise aprofundada sobre a probabilidade de default (quando o devedor deixa de cumprir as obrigações de uma dívida) da empresa investida;

Hiperatividade: É mais importante para o investidor permanecer investido e se beneficiar dos juros compostos ao longo dos anos do que tentar prever cada movimento de mercado e, com isso, incorrer em custos com taxas e impostos. Howard cita Bill Miller (grande investidor americano) abaixo: 

“Time, not timing, is key to building wealth in the stock market.”

E o que REALMENTE IMPORTA para o investidor?

Na visão de Howard, o que realmente importa é a Assimetria, ou seja, obter um resultado que seja satisfatório de acordo com seus objetivos e perfil de risco, buscando ter mais resultados positivos nos momentos bons de mercado do que negativos nos momentos ruins. Porém, para ele, investidores médios (comuns) não possuem a habilidade e ferramentas necessárias para atingir esse nível, por definição. Howard acredita que o investidor médio deveria concentrar mais seus esforços em simplesmente participar do mercado e obter resultados por meio da composição dos juros compostos ao longo dos anos. Para esses, ele acredita que investimentos passivos e de baixo custo (como ETFs) podem fazer bastante sentido.

Já para investidores profissionais, a busca deve ser pela geração de ALFA, isto é, obter retornos superiores ao benchmark (índice de referência) ajustados ao risco. Howard acredita que a definição de ALFA vai além, e significa possuir uma habilidade superior de investimento, quer dizer, “a habilidade de encontrar e explorar ineficiências quando elas estão presentes.” Esses investidores devem sempre buscar a excelência, que reside na capacidade de obter bons resultados não somente em tempos favoráveis, mas também em tempos desfavoráveis.  

Segundo Howard, portanto, os investidores profissionais devem:

  • “Estudar companhias e títulos, avaliando-os de acordo com seus potenciais de ganhos”;
  • “comprar aqueles que podem ser adquiridos por preços atrativos dado o potencial de ganho mensurado”;
  • “mantê-los enquanto as perspectivas de lucro da empresa e a atratividade do preço permanecerem intactas”; e
  • “fazer mudanças somente quando essas coisas – itens acima – não puderem ser reconfirmadas, ou quando alternativas melhores aparecerem (considerando retorno, risco, custo de oportunidade e objetivos)”. 

Algumas lições aos investidores em geral, descritas por Howard:

“Sempre ter uma margem de segurança para quando as coisas não ocorrerem tão bem como esperado”;

“Parar de tentar prever o futuro”;

“Reconhecer que a PSICOLOGIA dos investidores se altera com muito mais frequência do que o fundamento dos ativos”;

“Estudar as condições presentes nos mercados – especialmente o comportamento dos investidores – e considerar onde as coisas estão em termos de ciclo. Entender em qual momento do ciclo estamos ajuda a identificar se as coisas estão mais a nosso favor ou contra”.

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*Esse post não é uma recomendação de investimento. Para maiores informações e uma análise personalizada do seu caso em específico, entre em contato conosco.

02 de julho de 2023.