O Fomc reduziu a taxa básica de juros norte-americana (Fed Funds rate) em 50bps (0.50%), para o intervalo entre 4.75% e 5.00%. O mercado como um todo queria uma redução dessa magnitude, mas alguns acreditavam que o início do afrouxamento monetário se daria de forma mais branda, partindo de cortes de 25bps.
O fato é que a economia norte-americana está muito sólida e um corte de juros da atual magnitude, de 50bps, parece, neste momento, um tanto exagerado. O próprio comunicado do Fomc ratifica essa percepção, citando que “a economia continua se expandindo de forma sólida”… “a taxa de desemprego tem aumentado, embora permaneça extremamente baixa”… “a inflação tem se movido em direção à meta de 2.0%, mas continua elevada”.
Na verdade, a inflação de serviços e a inflação de aluguéis nos Estados Unidos continuam rondando os 5.0% e estão, portanto, consideravelmente acima da meta; o ganho salarial médio por hora em agosto voltou a subir, assim como as vendas no varejo; não parece haver demissões que sejam sinal de recessão, mas, sim, aumento de taxa de desemprego ligada ao maior número de imigrantes que expandem o mercado de trabalho; os gastos do governo aumentam sem precedentes, causando possível pressão inflacionária à frente; as prováveis maiores tarifas sobre os produtos chineses devem desencadear pressão nos preços internos, especialmente no pós eleição. Pelos motivos citados e mesmo sabendo da pressão geral sobre o Fed pelo início do afrouxamento, a manutenção, ou mesmo uma redução inicial de apenas 25bps nos juros, parecia-me mais prudente.
Já no Brasil, a taxa básica de juros foi aumentada em 25bps (0,25%), para 10,75%:
Embora a inflação desancorada com relação ao centro da meta de 3,0%, a SELIC anterior (10,50%) já estava em território consideravelmente contracionista. O consumo das famílias, no primeiro semestre, foi fortemente impulsionado por recursos vindos de medidas não recorrentes (ex. precatórios liberados). É fato que o mercado de trabalho e os salários se recuperam.
Com relação à desvalorização do câmbio e seu peso sobre a inflação, o início do afrouxamento monetário nos Estados Unidos já traria algum alívio. Mais do que isso, parte dessa desvalorização cambial e grande parte do aumento dos prêmios de risco que pressionam a trajetória da dívida e desancoram expectativas inflacionárias vem de um fiscal desorganizado com maiores gastos governamentais e incapacidade de redução de gastos ineficientes. Com essas considerações e pensando nos possíveis impactos sobre a economia real que vem se recuperando, penso que haveria espaço para o Bacen aguardar mais para voltar a subir os juros.
Por Maurício Cardoso, CFP®
Florianópolis, 18 de setembro de 2024.