Baseado no artigo “The rise of geopolitical swing states” de Jared Cohen (Goldman Sachs) de 15 de maio de 2023.
A forma como os países negociam entre si tem se alterado, especialmente após a pandemia do COVID-19. A pandemia e a impossibilidade de enviar e receber produtos de seus parceiros comerciais abriu os olhos de muitos países para situações envolvendo o comércio exterior, como por exemplo, a importância de não ser totalmente dependente de outros países quando se trata de produtos ou serviços fundamentais.
Em seguida, veio a Guerra na Ucrânia jogando mais incerteza e tensão nas relações entre países e criando uma quase rachadura entre os apoiadores do Ocidente e os apoiadores do Oriente. Novamente, a necessidade de não ser totalmente dependente de outros países com relação a produtos ou serviços fundamentais para suas economias. Com isso, o grande movimento das últimas décadas chamado GLOBALIZAÇÃO passou a ser adaptado, nesses últimos três anos, para uma situação em que os países buscam voltar a produzir internamente alguns itens primordiais e fazer parcerias com países mais próximos e mais “amigáveis”, evitando maior relacionamento com potenciais ameaças.
Num primeiro momento, muitas pessoas disseram que, após a pandemia, o processo de globalização visto nas últimas décadas seria alterado para um processo de “desglobalização”, onde os países ficariam mais fechados comercialmente. Na verdade, o que temos visto, e o que Jared Cohen cita em seu artigo, é que há um novo mundo onde as relações comerciais estão mais voltadas para o “nearshoring”, “offshoring” e “friendshoring”, isto é, relações entre países que se baseiam em questões locais (proximidade) e também em relações que sejam mais “amigáveis”.
Atualmente, o grande ponto que gera fricção entre os países chama-se TECNOLOGIA. As empresas líderes em tecnologia e, portanto, em posse de grande parte das INFORMAÇÕES sobre tudo e todos, estão dominando o mundo (ou já dominaram?!). A grande “guerra silenciosa” acontece principalmente entre Estados Unidos e China com relação à república de Taiwan, que é a líder mundial na produção de chips de alta tecnologia.
Dentro desse contexto, Jared Cohen destaca quatro novas “classificações” para os países nesse novo arcabouço mundial menos globalizado e de novas alianças:
1. “PAÍSES COM VANTAGEM COMPETITIVA EM ASPECTOS CRÍTICOS DAS CADEIAS DE SUPRIMENTOS GLOBAIS”
- ÍNDIA: possui grande mercado consumidor e força de trabalho disponível em abundância; possui tecnologia e produtos farmacêuticos de ponta; possui capacidade para ser o novo grande centro de fabricação global.
- BRASIL: é líder em commodities e agricultura como um todo; possui um setor de serviços em expansão.
- BLANGADESH: possui forte indústria têxtil.
- MARROCOS: possui 70% de toda a reserva de fosfato do mundo; é a ponte entre a Arábia e a África.
- AUSTRÁLIA, CANADÁ, SUÉCIA e JAPÃO: países que se tornam cada vez mais importantes com esses novos modelos de relações comerciais.
- INDONÉSIA: possui 22% de toda a reserva mundial de níquel (fundamental na produção dos veículos elétricos).
- CONGO: possui grande parte dos depósitos mundiais de cobalto (utilizado na produção de veículos elétricos).
- CHILE: Possui 26% da reserva mundial de Lítio (utilizado na produção de veículos elétricos).
- GUIANA: está se tornando um dos maiores produtores de petróleo.
- HOLANDA: a empresa ASML COMPANY está instalada lá e é considerada uma das maiores produtoras de semicondutores do mundo.
- TAIWAN: o mais avançado produtor de semicondutores do mundo.
2. “NEARSHORING, OFFSHORING OU FRIENDSHORING (LOCALIDADES E RELAÇÕES QUE PERMITEM MAXIMIZAR OS GANHOS SOBRE AS RELAÇÕES COMERCIAIS)”:
- VIETNAM: tem se tornado um dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos; possuem grande quantidade de força de trabalho disponível.
- CANADÁ e MÉXICO: parceiros mais próximos dos Estados Unidos, se tornam cada vez mais importantes, criando uma relação mútua entre CANADÁ-EUA-MÉXICO.
3. “PAÍSES COM GRANDE QUANTIDADE DE CAPITAL E DISPONIBILIDADE DE INVESTIR EM NEGÓCIOS ESTRATÉGICOS E DIVERSIFICADOS AO REDOR DO GLOBO”:
- SINGAPURA: é um centro financeiro na Ásia; um dos países que mais se aproveitou do processo de globalização visto nas últimas décadas.
- NORUEGA: centraliza grande quantidade de recursos vinda de grandes fortunas estrangeiras; é um dos países mais avançados na luta contra as mudanças climáticas.
- CATAR, ARÁBIA SAUDITA e KUWAIT: são grandes produtores de petróleo; nações extremamente ricas.
4. “PAÍSES COM ECONOMIAS DESENVOLVIDAS E LÍDERES QUE POSSUEM VISÕES PRÓPRIAS SOBRE ASSUNTOS CRÍTICOS”:
- ALEMANHA, FRANÇA, CORÉIA DO SUL e JAPÃO: países com suas “próprias regras” nesse mundo de novas formas de negociação.
Jared Cohen lembra que cinco países são responsáveis pelo controle de praticamente toda a oferta mundial de design e produção de semicondutores, são eles:
Estados Unidos, Coréia do Sul, Japão, Holanda e Taiwan.
Ele ainda destaca:
“Even in an age of populism and protectionism, there’s great appetite for trade agreements.
but…
…the new frontier of international cooperation is:
TECHNOLOGY!”
01 de julho de 2023.