Não estamos escutando uns aos outros!

A postagem de hoje é sobre o ótimo livro You’re not listening – what you’re missing and why it matters”, escrito por Kate Murphy. 

O livro traz vários insights sobre o que acontece atualmente: As pessoas não escutam umas às outras. Na verdade, as pessoas não têm mais paciência para escutar. É nítido que isso tem total interação com as novas tecnologias, especialmente com o uso cada vez maior das redes sociais. Quantos de nós escutam os áudios recebidos no WhatsApp na velocidade normal? Temos paciência para esperar o outro concluir o seu raciocínio ou ficamos ansiosos querendo colocar logo a nossa opinião “em cima da mesa”? Frequentemente acreditamos já saber o que a outra pessoa irá falar? Preferimos ficar com nossos headphones, em nossa bolha, a escutar o que o outro tem a dizer? Por que daremos a chance para alguém contrapor a nossa opinião se podemos selecionar somente aqueles que concordam conosco nas redes sociais? Estamos cada vez mais intolerantes, impacientes e isolados. Quais as consequências disso para a nossa saúde? 

Antes de qualquer coisa: Ouvir não é a mesma coisa que Escutar. Ouvir é um processo mecânico, enquanto Escutar demanda prestar atenção, esforço, buscar entendimento sobre o que está sendo dito. Será que estamos verdadeiramente escutando o que o outro está querendo nos dizer? 

listei abaixo algumas partes do livro que achei interessantes:

Sobre o uso exagerado das telas (redes sociais):

“Estima-se que entre 15% e 60% das contas nas redes sociais não pertençam a pessoas reais.”

“(90-9-1): 90% apenas observam; 9% comentam ou curtem algo; 1% cria algum tipo de conteúdo. Em resumo: os silenciosos são a vasta maioria.”

“Os jovens da geração Z foram os primeiros a nascer sobre telas. Eles são os mais prováveis a se sentirem sozinhos e em piores condições de saúde, mesmo quando comparados com gerações mais velhas. O número de alunos escolares hospitalizados por pensamentos ou tentativas suicidas mais do que dobrou desde 2008.”

“Estudos indicam: quanto maior o tempo de tela, maior a infelicidade.”

“Jovens que habitualmente jogam videogame são mais prováveis de sofrerem de ansiedade e depressão.”

“Nas redes sociais, as pessoas filtram qualquer opinião contrária. Nos contatos telefônicos, acham as ligações intrusivas, ignoram áudios ou colocam na velocidade mais rápida possível, preferindo pequenos textos ou emojis. O resultado é uma sensação arrepiante de isolamento e falta de empatia.”

“Evitamos as bagunças e imperfeições dos outros, retirando-nos para a relativa segurança de nossos dispositivos, deslizando e excluindo com abandono. O resultado é uma perda de riqueza e nuances nas nossas interações sociais, e sofremos de uma sensação crescente de insatisfação.”

Não estamos Escutando uns aos outros:

“Na vida moderna, valor é colocado sobre o que você projeta, não sobre o que você absorve. Estamos apenas esperando por uma abertura, uma respiração, para podermos trazer nossas opiniões à tona.” 

“Em oposição a Escutar verdadeiramente, você parece estar sempre “afiando a sua faca”, pensando em como provar o seu ponto de vista; O porquê de você estar certo.

“Father Jorge Gómez: Acredito que há uma crise de escuta em nosso mundo. Há muitas pessoas que querem falar, mas pouquíssimas que querem escutar.”

“Quando estamos muito ocupados para Escutar, quando olhamos para nossos telefones, quando colocamos nossas opiniões muito cedo, ou fazemos suposições, nós evitamos que os pensamentos e emoções dos outros possam ser genuinamente expressados. Como resultado, acabamos ocos ou mais vazios do que seríamos de outra forma.”

“Somos a soma do que assistimos na vida: a voz calmante de uma mãe; a voz doce de um amor; a orientação de um mentor; a repreensão de um supervisor; a motivação de um líder; as provocações de um rival. Escutar pobremente, seletivamente ou não escutar significa limitar nosso entendimento de mundo e depravar nós mesmos de nos tornarmos o melhor que podemos ser.”

“Nossa habilidade de escutar e nos conectar com as pessoas enquanto adultos foi moldada por quão bem nossos pais nos escutaram e se conectaram conosco quando crianças.”

“A habilidade de Escutar qualquer pessoa tem sido substituída pela capacidade de excluir a todos, particularmente aqueles que discordam de nós ou não chegam ao ponto rápido o suficiente.”

“Durante conversas perfeitamente audíveis, a leitura labial é responsável por até 20% da sua compreensão. Além disso, é amplamente aceito que pelo menos 55% do conteúdo emocional de uma mensagem falada é, de fato, transmitido de forma não-verbal. Portanto, mesmo que você tenha examinado seus ouvidos e sua audição esteja perfeita, se você estiver olhando para o telefone ou pela janela enquanto alguém está falando com você, você não entenderá toda a história.”

“Aproximadamente 55% da comunicação é transmitida por sinais não verbais e 38% pelo tom de voz. Sendo assim, você consegue obter apenas 7% de entendimento sobre o que realmente está sendo dito via mensagens de texto.” 

“Pessoas se tornam solitárias por falta de escutar. Se sentir isolado e desconectado aumenta o risco de morte prematura tanto quanto obesidade e alcoolismo combinados. É pior do que fumar 14 cigarros por dia. Estudos epidemiológicos têm encontrado ligação entre a solitude e doenças cardíacas, AVC, demência e fraca função imune.”

“Ouvir é passivo. Escutar é ativo. O cérebro dos melhores escutadores trabalha duro para processar todas as informações de entrada e encontrar significado, abrindo portas para a criatividade, empatia, novos insights e conhecimento. Entender é a meta de escutar, e isso requer esforço.”

“Escutar vai além de apenas ouvir o que as pessoas dizem. Escutar é prestar a atenção para como elas dizem e o que elas fazem enquanto elas dizem, em que contexto e como o que elas dizem é percebido dentro de você.”

“Consciente ou inconscientemente, quando você não Escuta o que a outra pessoa está querendo dizer e dá atenção a outras coisas, você faz com que essa pessoa sinta que não é interessante, não é importante, não tem valor, ao menos naquele instante.”

Segundo Daniel Kahneman: “Você dispõe de um orçamento limitado de atenção que você pode alocar para atividades. Se você tentar ir além desse orçamento, você irá falhar.”

“Comportamento ético requer que você leve em consideração como suas palavras e ações afetam os outros, e você não pode obter um senso correto disso sem Escutar.”

“É melhor escutar como as pessoas se sentem do que tentar convencê-las a mudarem seus sentimentos.” 

“Quando alguém Escuta você, isso pode parecer muito com amor. Algumas pessoas podem não saber a diferença.”

“Para escutar bem, você precisa de tranquilidade e liberdade de interrupções.”

“É possível, com consciência e paciência, desenvolver suas habilidades como um Escutador e fazer isso extremamente bem. Mas ainda haverá momentos em que você perderá o seu foco ou tolerância, ou ambos.”

“Escutar é recompensador! Escutar como as pessoas lidam com os seus desafios nos ajuda a lidar com os nossos.” 

“Escutar é uma cortesia e, mais fundamentalmente, um sinal de respeito. É impossível convencer alguém que você o respeita, apenas falando. Isso deve ser demonstrado, e escutar é a maneira mais simples de fazer isso.” 

“Aprendemos quando escutamos.”

Escutemos mais! 

Por Maurício Cardoso, CFP®

Florianópolis, 17 de maio de 2024.